Os livros de Machado de Assis estão entre os grandes patrimônios da literatura e cultura brasileira. Lido, apreciado e estudado em aulas de português até os dias de hoje, suas obras seguem – mesmo mais de um século depois de escritas – atuais em suas temáticas e narrativas.
Neste artigo você irá entender alguns dos motivos pelos quais as obras do maior escritor brasileiro de todos os tempos permanecem tão atuais e apreciadas por muita gente. Mas antes, que tal falarmos um pouco sobre a biografia de Machado de Assis?
Quem foi Machado de Assis?
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no Rio de Janeiro, ainda no Período Regencial do Brasil Império. Filho de Francisco José de Assis, negro e filho de escravizados alforriados, e da portuguesa Maria Leopoldina Machado da Câmara, o escritor era a expressão de sua época: miscigenação, racismo, escravidão e muitas questões sociais.
Sua família era bastante humilde e vivia no Morro do Livramento. Desde cedo demonstrou curiosidade e interesse em aprender sobre o mundo ao seu redor. Com apenas 10 anos, estudava durante o dia em um colégio e aprendia francês com um padeiro imigrante à noite.
Iniciou sua carreira como escritor em 1854, com apenas 15 anos, publicando seu primeiro soneto em um jornal carioca. Destacou-se, com o passar do tempo, como o maior escritor do Realismo brasileiro. Sua vasta obra contava com um pouco de tudo: crônicas, romances, poesias, teatro, artigos jornalísticos e contos.
As fases do escritor
Ao longo de sua carreira, os livros de Machado de Assis se destacaram pelo profundo grau de reflexividade, imersão e análise da sociedade brasileira. Uniu ficção com a realidade do país à época e tinha uma visão aguda sobre as desigualdades e opressões vividas pela maioria da população.
A carreira de Machado de Assis é dividida em dois momentos: a fase romântica – ou de amadurecimento – em que o autor escreveu obras como “Iaiá Garcia”, “Helena”, “Ressurreição” e “A Mão de Luva’‘. Já a fase realista – ou de maturidade – abrange os clássicos “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba” e “Dom Casmurro”.Todavia, já havia em seu romantismo prenúncios do realismo que o consagraria.
No ano de sua morte, 1908, ainda foram publicadas as obras“Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”, que ainda se categorizam por serem realistas – por mais que estudiosos apontem uma suposta terceira fase do escritor.
Um homem a frente do seu tempo
A genialidade do Bruxo de Cosme Velho, um dos apelidos de Machado, foi reconhecida ainda em vida. Contudo, ele era considerado um “corpo estranho” no Brasil da época, tanto pelo seu estilo de escrita quanto pelas reflexões que ele trazia em suas obras.
Além de ser mais objetivo que os românticos, escrevendo frases e capítulos mais curtos e objetivos, o autor também foi capaz de aproximar a ficção com para perto da realidade brasileira. Considerando não apenas a elite, mas também os escravos e seus descendentes.
Ainda que não fosse um militante, ele tinha um profundo envolvimento com a política e cultura do país e utilizava a escrita como porta-voz de suas críticas às desigualdades e opressões da sociedade.
Outro fator que coloca Machadão à frente, é a premissa da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, que é toda constituída pelo cunho humano da memória, que é falha, cheia de incertezas e distorce o real. Essa reflexão só passou a ser feita por outros escritores no século seguinte, XX
Portanto, Joaquim foi “um grande intérprete da formação, ou deformação, sócio-histórica do Brasil do século XIX”, de acordo com o professor e escritor Flávio Ricardo Vassoler.
Os livros de Machado de Assis: obras que seguem atuais
Vamos agora à pergunta do título: por que os livros de Machado de Assis são tão atuais?
A resposta não é tão simples, mas podemos compreender os motivos.
Machado de Assis escrevia de forma profunda e conectada com o interior e o exterior – a psiquê humana e a sociedade que permeia a todos. Muitas das questões de sua época seguem presentes no século XXI, e a forma como ele as abordava “conversa” com todas as gerações que vieram após a dele próprio.
Por exemplo, Machado de Assis fala sobre o ceticismo e pessimismo: duvidava e questionava o ser humano. É muito interessante notar que, mesmo ao abordar temas densos, sua obra permanecia leve e agradável. Isso se deve a sua habilidade de combinar dúvidas e pessimismos com ironia e humor.
Sua narrativa zigue-zague também o faz ser atual. Ele fazia muitas digressões: estava contando uma história, mas de repente lembrava de outra e passava a contá-la. Então Machado de Assis não era óbvio, não era linear.
Além disso, o seu constante diálogo com o leitor (metalinguagem) e a ponte que o escritor fazia com obras de outros grandes escritores (intertextualidade) são características que somam em sua contemporaneidade.
Podemos citar também suas reflexões sobre tradição e ruptura. O constante relato das contradições da vida e do que é viver em sociedade. “Nossas vidas não são só tragédias ou comédias.”
Por fim, Joaquim tinha a capacidade de olhar as pessoas e entender a relação entre elas é fundamental para conquistar os leitores. Os livros do Machado de Assis contam histórias nas quais o escritor entra na cabeça das pessoas e desvenda porque agimos como agimos. Por tudo isso, suas obras sempre serão atuais.
É um autor para lermos a vida inteira e continuarmos aprendendo coisas novas sobre o Brasil do século XIX e, principalmente, sobre nós mesmos!
Fernando Vale é um profissional graduado em Administração e com MBA em Logística Empresarial. Atualmente, é sócio e diretor da Unova Cursos, uma empresa especializada em Educação a Distância (EAD) e Cursos Online. Com mais de uma década de experiência no mercado educacional, Fernando tem se empenhado em levar conhecimento de excelência para milhares de indivíduos em todo o território brasileiro.
Sobre o Autor
0 Comentários